A pureza - Miza

Era criança demais para os pais perceberem que entendia tudo. Mas entendia. Não havia historinhas de quadrinhos ou contos de fadas que encobrissem. As coisas dentro de casa eram reais demais que acabavam apagando as fantasias de sua infância. Se tivesse uma voz mais grave, levantaria, ousaria assim como uma super-heroína faria. Mas não percebia, ainda, que sua voz aguda e baixa era suficiente para acabar com as lamentáveis discussões.
Era criança demais, mas já desejava muito. Ajoelhava-se e pedia a Deus – aquele homem que a sua mãe ensinara a confiar todos os seus sentimentos – que não a tornasse um adulto daquela forma. E se fosse preciso crescer, que crescesse melhor. Por enquanto, tinha que fingir não entender nada. Suas orações eram contidas, sem pressa.
Seus pais eram mais crianças do que ela. Mas isso, ela ainda era criança demais para entender.