Sertão - Mauro Andriole
Levantou em um salto. A testa suada. Seu lençol de trapos estava jogado no chão. Ao certo o pesadelo o fizera se mexer demais. De novo aquele sonho anormal o assaltava. Servia de despertador. Já era dia. Mas no sonho, o dia era branco morto. Do céu caíam pedacinhos brancos da nuvem. O dia era apagado. O céu chorava; tanta água que não acabava. E ele estava todo enrolado em panos, como se desejasse esquentar o corpo. E o sol? Era uma luz longe, detrás de tanta nuvem escura. “Será o inferno, santo pai?”. É, com certeza não haveria lugar na Terra que fosse daquele jeito. Acomodou-se na soleira da porta de sua casa de taipa, observou o dia claro, o horizonte alaranjado daquele sertão bonito. “O mundo só pode ser assim, vivo, ensolarada, sô!”. Fechou os olhos e começou a rezar. Afinal de contas, não queria ir parar no inferno, naquele lugar sem sol, com as nuvens se desmanchando e água caindo do céu.
Gosto do dinamismo dos seus textos, de como às vezes alterna entre a narração e as falas sem avisar(a não ser pelas aspas, claro).
Esse texto é particularmente interessante pelo "sabor" de inocência que traz consigo. Ele me fez lembrar um vídeo que, acho, você vai gostar:
http://www.youtube.com/watch?v=DESEUoNuhxQ
Erro de concordância em "Do céu caia pedacinhos" (L. 3). correto: "Do céu caíam pedacinhos".
Bjo. YYBMF.