Mulberry Tree - Vincent Van Gogh

Finalmente alcançou o tronco da árvore. Sentou-se. Fechou os olhos, como sempre fazia, mas agora com uma sensação diferente. Não era mais aquela menina indecisa que estava ali; era uma senhora, mãe e avó, dona de casa, esposa e empresária. Estava velha e doía reconhecer isso, agora, tão tarde. Lembrou-se da última vez que se sentou debaixo daquela árvore para pensar na sua vida e decidir quais caminhos seguir. A questão a ser decidida, da última vez, era fácil perto da atual. Hoje, depois de fugir das responsabilidades de casa e do trabalho, ousou pegar a estrada e voltar para aquela fazenda abandonada, só para ali se sentar. Abriu os olhos. Agora tinha que decidir: morrer ou não? Recebera, não fazia mais de uma semana, da boca de seu médico, o ultimato. Estava velha e a velhice não poupa a vida. Tinha que contar à família, prepará-los e deixá-los em paz para, então, ela realmente morrer. 
Em parte, na verdade, a morte não era uma decisão. Estava ali, ela e o resto de toda a sua vida, debaixo daquela árvore, somente para decidir se fora feliz o suficiente para morrer em paz. Um vento soprou alguns fios grisalhos de seus cabelos. É, estava pronta para morrer. Doía, não somente largar toda a vida, mas especialmente aquele lugar... Aquela árvore marcou a menina, a moça, a mulher e agora a velha que escreveu uma história. Era hora de dizer adeus à árvore de sua vida.
Levantou. Saiu.