Cigana - Orlando Santos

“E o que eu faço com essa dor no peito?”. A moça realmente parecia aflita, mas novamente eu tinha que buscar uma sábia frase para despertar a atenção e curiosidade dela por um bom período, para assim, quem sabe, a fazer esquecer um pouco as mágoas do amor. Disse, com aquela minha voz pausada e convicta – a qual agradeço por me proporcionar o poder de parecer realmente uma cigana e vidente:  “o mar sem o vento não se moveria, assim como o corpo sem a dor não se renovaria”. A moça parou, boca entreaberta, pensativa. Eu pacientemente esperei até ela se conformar com o destino dela, que no fundo eu não entendia. E, então, funcionou... Da mesma forma como sempre funciona. Ela sorriu triste, entregou o dinheiro pela consulta, agradeceu-me e saiu da tenda.
Guardei o dinheiro na bolsa; também agradeci, porém, pelos problemas dos outros. Sem eles, não sobreviveria. Esperei pelo próximo cliente. Qual seria o próximo ‘coração partido’, ‘amor encerrado’, ‘destinos mal escritos’?