Touch - Serhiy Reznichenko

O recital iria começar em poucos minutos. Porém ela arrumou um jeitinho de olhar a plateia e, em meio à multidão, não o encontrou. Não deixou de verificar mais vezes, em cada fileira... Nada. Agora se sentia completamente só, não importasse quantas pessoas estivessem lá fora, era ele quem mais importava. Aquilo tudo que ela iria apresentar foi ensaiado com todo o afinco e pensando nele. E, mesmo depois de convidar e implorar por sua presença, ele não estava ali. O homem para quem dedicaria cada nota tocada naquele piano, resolvera não ir.
Sentiu pena da plateia: iriam presenciar um espetáculo pela metade, pois apenas o lado profissional dela iria se apresentar. O outro lado tão essencial quando o primeiro – o emocional – já havia se entregado ao mar das notas musicais abandonadas. E por lá ficaria desafinando seu próprio abandono.