Bodegón - Jose Paul Perez
Ele era uma das maiores referências mundiais em gastronomia e, também, um requisitado mestre de cozinha. Mas não era perfeito: tinha
o defeito árido de criticar o mínimo tempero mal colocado ou a pitada de açúcar
que faltava em determinado prato. Dizia para todos que achava toda a culinária
do seu povo e das pobres donas de casas pura ignorância.
Um dia, viajando de carro rumo a uma cidade aonde iria
palestrar, sofreu um acidente. Uma tragédia da qual somente ele saiu sobrevivente.
No meio do sertão, saiu desolado pedindo socorro. Encontrou um casebre e sentiu
o cheiro do feijão no fogo. Percebeu que estava faminto até ser notado pela
pobre senhora. Recebeu as ajudas necessárias e até mesmo um prato farto do
feijão. Experimentou e, dessa vez, sentiu o sabor mais incrível de toda a sua
vida. A degustação o fez entender: a fome misturada com o prazer de poder ter
comida naquele momento difícil tornou aquele feijão saboroso. E foi aquele
prato simples da sertaneja que o socorreu – tanto da tragédia quanto do seu
defeito de criticar tudo e todos.