Reflect - Mary Jane Ansell


“Esse camarim não me fará falta. Os gritos, suspiros, olhares, sorrisos, por mais bem feitos, porém mentirosos, também não despertarão saudades. Deixo as máscaras para trás, com o orgulho de quem já conseguiu superar a mania de atuar – tanto em palco, como em vida. Cansada, largo os monólogos e vou viver. Viverei a realidade de um mundo que não pede que você decore as falas, simplesmente fale o que bem lhe aprazer...”.
De longe, a faxineira do teatro observava a atriz – que fora aposentada forçadamente no dia anterior – falando sozinha dentro do camarim que seria ocupado pela mais nova estrela do teatro. De longe, aquela era a pior de suas apresentações, pois a voz, embargada pelo choro de quem fora passada para trás pelo mercado de atrizes, deixava sua dicção terrível. Aquela atriz aposentada continuaria a monologar, no entanto, cada vez mais frustrada.