The dream - Pablo Picasso

Eu quero a ilusão calma de uma manhã sem ti. Eu quero o alívio de acordar do pesadelo de tê-lo por perto quando em vez. Eu quero o vazio da sala, quando bates a porta e sais gritando ao vento o quanto sou ingrata. Ingrata? Claro, não agradeço mesmo teus alardes, teus insultos de homem machista sem freio e tua burrice de homem que pensa que manda em casa. Eu continuo, em cada anoitecer, a desejar a infinitude das tuas noitadas, embriagadas e traíras, só para não ter que olhar na tua cara. Prefiro a cama só minha, pois ela é mais calorosa sem teus nojentos roncos.  Mas, acima de todos esses quereres, eu apenas quero que me compreendas, que me realizes e vai, de uma vez só, embora. Pois “a boa hora” da partida já passou há muito tempo. Vai! Em péssima hora, mas apenas vai! E gaste todos os teus escrúpulos com outra mulher, pois essa mulher, que te escreve essa carta, se apaixonou por outra pessoa: ela mesma! Completamente apaixonada por mim, te mando para bem longe – seu ingrato!