Andrew Atroshenko
Na manchete do jornal mais importante do país, em letras graúdas,
a notícia trágica da destruição por incêndio do teatro nacional, numa noite de
espetáculo musical. Apenas uma morte foi registrada – de uma moça que compunha
a orquestra que tocava no instante do acidente. Por trás das páginas cinzas do
noticiário, havia a estória de amor daquela moça pelo seu instrumento musical. O
violino era como a extensão do seu corpo que tocava notas agudas de felicidade.
Sempre que ela se apresentava – houvesse ou não público para assisti-la – ela se
esquecia do universo ao seu redor e só voltava a si quando terminava sua
apresentação. Essa foi a sua causa mortis naquela noite: tocando seu violino,
morreu na fogueira da sua própria ilusão, sem sentir dor, apenas o calor da felicidade
das notas musicais.