Death and Life - Gustav Klimt


Aos dez anos, suportou a morte de seu pequeno peixe. O pai optou por preencher o vazio dele com um cachorrinho - que viveria mais. Aos vinte anos, a morte levou esse cachorrinho. A dor foi maior e o pai lastimou não ter previsto tamanho sofrimento. O jovem desistiu de criar animais; resolveu preencher o vazio com os humanos. A dor persistiu: ora a morte resolve levar seus avós queridos, ora os amigos próximos desapareciam como se tivessem morrido. O homem resolve, então, constituir uma família - esposa, filho e filha. A esperança do resto da vida ao lado desses preencheu seu novo vazio. Mas eis que recebe a notícia do aproximar da morte do pai e percebe que logo teria que suportar um vazio lancinante. Chorando no leito do seu velho, ouviu sair da boca deste essas palavras:
“Meu filho, me perdoe. Há muitos anos atrás, eu perdi a oportunidade de lhe ensinar a viver de verdade. Quando você tinha dez anos, com o seu pequenino peixe morto nas mãos, eu deveria ter lhe ensinado que a morte é insuperável e que ela faz parte da vida. Aceitá-la é viver. Mas ao invés disso, ensinei-o a preencher o vazio e agora você é um homem triste, cheio de lembranças vazias, sofrimentos calados, dores profundas… Isso foi o maior mal que cometi em vida, então peço que me perdoe e aprenda essa última lição. Aprenda, por favor, pois só assim posso morrer mais vívido e deixar você viver sem vazios”.
Essas palavras foram como raio de luz na escuridão da alma daquele homem que chorava. E o olhar iluminado do filho foi suficiente para o pai compreender que conseguiu seu perdão. A morte veio tantas outras vezes. O vazio, não.