Guns - Andy Warhol
Som de tiro. Não só um. Muitos
tiros. Para seus ouvidos, não era barulho. Era som, como dos passarinhos na
primavera. Mas diferentes dos passarinhos – que só apareciam na primavera – os tiros
não tinham estação. Eram sempre presentes. E nunca tivera medo disso. Não até
ouvir aqueles tiros. Não eram tiros das armas do pai. Sabia disso. E soube da
pior forma. Sangue. No chão da sua casa, havia muito sangue. Descobriu o corpo
do pai morto na sala. De súbito, acordou. Aquela lembrança novamente durante o
sono. O homem levantou, lavou o rosto para afastar aquela memória. Lembrou as
palavras do homem que matou seu pai: “menino, não se preocupe, agora vamos te levar
para um país melhor e terá uma educação melhor. Não precisará viver entre tiros”.
Diante do espelho, ele encarou seu próprio riso. Muito enganado. Apesar do seu
passado renegado, com seus pais talibãs mortos, após ser supostamente acolhido
por outra nação, educado e formado, agora era policial. E escolhera aquela
profissão só para continuar vivendo entre tiros. Porque ele foi criado assim. Porque
aqueles foram os valores ensinados por seus pais. E sairia para mais um dia de
trabalho. Para atirar. Porque aquele era o som da sua vida.